domingo, 31 de maio de 2020

O momento é AGORA

Se houve lição que todos tiramos desta pandemia é que nada, mas mesmo nada nesta vida é garantido. Um passeio à beira mar, um beijo à mãe, um abraço à melhor amiga, uma ida à cidade ao lado. Coisas tão simples como estas foram-nos vedadas durante largas semanas, mostrando que o mais importante na vida são mesmo as coisas mais simples e que davamos por garantidas.
No fim de semana passado fomos para o Algarve. Aproveitámos a quinta-feira de espiga que é feriado onde vivemos e seguimos para sul para quatro dias que foram muito, mas muito mais especiais que alguma vez sonhámos.
À nossa espera tivemos quatro dias de 30 graus, noites quentes e conversas boas.
Se fosse noutro ano, claro que não iríamos para o Algarve, porque ainda era Maio, porque ainda havia escola na sexta-feira, porque assim e porque assado. Sim, podia ser o melhor fim de semana do ano, mas iríamos ficar por casa… porque, enfim.
Com todos os cuidados levamos os avós. Os meus pais.Os meus pais que ficaram sem ver ninguém da família durante mais de dois meses, a não ser em formato virtual. 
Celebrei os meus anos à distância. Celebrámos os anos da minha filha maior à distância. Celebrámos os anos da minha mãe à distância. A Páscoa. O dia do Pai. O dia da Mãe. Caramba, não se morre da doença, morre-se da cura.
Estava na hora de nos voltarmos a juntar, com os devidos cuidados, sem histerismo, sem colos, mas juntos de novo. 
Fomos para casa de uns amigos que já não recebia ninguém desde o Natal, logo sem qualquer possibilidade de ter qualquer vírus. Levei máquina do café atrás para nos mantermos o máximo em casa, sem necessidades tontas de ir à rua. Reservamos um restaurante para sábado e pedimos para ficar na esplanada. Levamos jogos e muitas ideias de cozinhados. Pusemos a conversa em dia e as gargalhadas também. Levamos lixívia e passamos a vida a limpar sapatos e chão. Andámos sempre com o desinfetante atrás. Fomos para a praia só com toalhas, protetor solar e chapéu de sol. Sem bolas, nem raquetes ou brinquedos. Andámos mais para ir para a praia mais deserta e mantivemos sempre os sentidos em alerta.
Acho que é esta a nossa realidade actual, de hoje e dos próximos tempos. E temos que seguir vivendo e sobretudo de apostar na nossa felicidade. E se temos oportunidade de fazer algo, o momento é AGORA. Nada nos garante que não voltemos ao confinamento. Nada nos garante que venhamos a ter ameaças piores. Nada nos garante que não venham dias cinzentos em pleno Verão.
Com todo o cuidado, sempre, aproveitemos o momento.

Ter a coragem de mudar nesta mudança

Estamos há um mês e meio dentro de casa e eu começo a pensar que chegou a hora real de fazermos mudanças radicais na nossa vida. Não podemos apenas mudar o escritório para a nossa sala de forma temporária, um mês, dois ou seis e depois cair no erro de voltar ao antigamente de mal tratar o nosso planeta, de nos matarmos em horas de trânsito, de não termos tempo para nada, de não prestarmos atenção aos nossos só pela correria louca dos dias. Mas essa mudança tem que ser nossa, de dentro de cada um de nós. De nada vale, estarmos fechados em casa, mas continuarmos a trabalhar a um ritmo alucinante e como se nada fosse. Não podemos exigir que os miúdos não podem falar durante todo o dia porque estamos a trabalhar e por isso “agora não podemos”. 
Da minha parte, vejo tudo isto que está a acontecer como uma enorme oportunidade de mudança. Mudança séria.
Nunca mais quero entrar em casa de sapatos calçados. Se durante todas estas semanas sou capaz de os deixar à porta e só os ir buscar depois de desinfectados e para os guardar, porque não fazê-lo para o resto da vida!
Nunca mais quero ir duas, três ou quatro vezes por semana ao supermercado porque me esqueci de deixar alguma coisa a descongelar e por isso ter que comprar todos os dias alguma coisa à pressa. Há um mês e meio que me organizo para ir uma e só uma vez às compras. Organizo as refeições todas: 14 pratos diferentes. Não falta nada. Não pode voltar a faltar.
Nunca mais quero perder horas intermináveis no trânsito, todos os dias da semana. Já mostramos todos que conseguimos fazer tudo e até mais a trabalhar de forma remota em casa. Não creio nem defendo que o teletrabalho seja saudável a 100%, mas pode significar uma grande parte do nosso tempo. As empresas têm obrigação de nos permitir fazer dias de trabalho a partir de casa, porque quando nos pediram, soubemos corresponder e até superar todas as expectativas.
Que saibamos manter o hábito de ligar todos os dias a quem nos quer bem. De não voltarmos a passar tanto tempo sem falar com aquele amigo porque a correria dos dias passados não dava. Que saibamos manter dos dias presentes a atenção verdadeira a quem vive conosco.
Que saibamos tratar da nossa casa tão bem como tempos tratado nestas semanas. Eu tenho redescoberto novos cantinhos na minha, tenho-lhe prestado mais atenção e carinho, ao contrário dos últimos anos em que quase servia apenas de dormitório, tal era o pouco tempo que lhe dedicava. 
Que saibamos aproveitar o tempo mal gasto de outrora (trânsito, reuniões longas e desnecessárias, tantos exemplos por aí) para nós e para o nosso bem estar: voltar a ter um hobbie, dedicarmo-nos ao que nos faz bem à alma ou à grande e desafiante tarefa de não estar a fazer nada. Apenas estar e viver melhor. 
Se não mudarmos com esta enorme oportunidade que estamos a ter nunca iremos mudar.