Estamos há um mês e meio dentro de casa e eu começo a pensar que chegou a hora real de fazermos mudanças radicais na nossa vida. Não podemos apenas mudar o escritório para a nossa sala de forma temporária, um mês, dois ou seis e depois cair no erro de voltar ao antigamente de mal tratar o nosso planeta, de nos matarmos em horas de trânsito, de não termos tempo para nada, de não prestarmos atenção aos nossos só pela correria louca dos dias. Mas essa mudança tem que ser nossa, de dentro de cada um de nós. De nada vale, estarmos fechados em casa, mas continuarmos a trabalhar a um ritmo alucinante e como se nada fosse. Não podemos exigir que os miúdos não podem falar durante todo o dia porque estamos a trabalhar e por isso “agora não podemos”.
Da minha parte, vejo tudo isto que está a acontecer como uma enorme oportunidade de mudança. Mudança séria.
Nunca mais quero entrar em casa de sapatos calçados. Se durante todas estas semanas sou capaz de os deixar à porta e só os ir buscar depois de desinfectados e para os guardar, porque não fazê-lo para o resto da vida!
Nunca mais quero ir duas, três ou quatro vezes por semana ao supermercado porque me esqueci de deixar alguma coisa a descongelar e por isso ter que comprar todos os dias alguma coisa à pressa. Há um mês e meio que me organizo para ir uma e só uma vez às compras. Organizo as refeições todas: 14 pratos diferentes. Não falta nada. Não pode voltar a faltar.
Nunca mais quero perder horas intermináveis no trânsito, todos os dias da semana. Já mostramos todos que conseguimos fazer tudo e até mais a trabalhar de forma remota em casa. Não creio nem defendo que o teletrabalho seja saudável a 100%, mas pode significar uma grande parte do nosso tempo. As empresas têm obrigação de nos permitir fazer dias de trabalho a partir de casa, porque quando nos pediram, soubemos corresponder e até superar todas as expectativas.
Que saibamos manter o hábito de ligar todos os dias a quem nos quer bem. De não voltarmos a passar tanto tempo sem falar com aquele amigo porque a correria dos dias passados não dava. Que saibamos manter dos dias presentes a atenção verdadeira a quem vive conosco.
Que saibamos tratar da nossa casa tão bem como tempos tratado nestas semanas. Eu tenho redescoberto novos cantinhos na minha, tenho-lhe prestado mais atenção e carinho, ao contrário dos últimos anos em que quase servia apenas de dormitório, tal era o pouco tempo que lhe dedicava.
Que saibamos aproveitar o tempo mal gasto de outrora (trânsito, reuniões longas e desnecessárias, tantos exemplos por aí) para nós e para o nosso bem estar: voltar a ter um hobbie, dedicarmo-nos ao que nos faz bem à alma ou à grande e desafiante tarefa de não estar a fazer nada. Apenas estar e viver melhor.
Se não mudarmos com esta enorme oportunidade que estamos a ter nunca iremos mudar.
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