sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Foi há um ano

Há um ano estava a viver um dos dias mais dificeis da minha vida: a Matilde era operada a um rim. Lembro-me de tudo ao pormenor, como se estivesse a viver tudo outra vez. Lembro-me que ela nunca me fez uma única pergunta por a ter tirado da cama ainda de noite, por termos ido só as duas de carro para Lisboa, por estarmos no Hospital sem termos comido nada. Lembro-me do quanto se riu quando uma enfermeira lhe fez um desenho a caneta no sítio onde ia ser operada. Lembro-me de a ver olhar para mim com quem pergunta "Não faz mal riscar a barriga com a caneta?" Lembro-me do que me disse antes de nos separarem já com a anestesia a fazer efeito no bloco operatório. Lembro-me das dezenas de vezes que passei a mão pelo cabelo, das vezes que fechei os olhos e voltei a abrir para contar os minutos que já tinham passado. Lembro-me das palavras da médica "é uma operação grande, longa, mas não nos é estranha". Lembro-me de me faltar o chão quando a mesma médica, horas depois de entrar, sair do bloco e me chamar a uma sala à parte. Lembro-me do cheiro da Matilde no recobro e de sairmos para a enfermaria só a meio da tarde. Lembro-me de tudo e sei como tudo mudou para sempre desde esse dia. Que há coisas de facto importantes na vida e há outras às quais damos importância e não contam para nada. E, especialmente, lembro-me de lhe dizer que dali a um ano iriamos sorrir ao recordar aquele aperto e foi isso mesmo que fizemos quando ela hoje acordou! Prometi-lhe, não só a ela como aos irmãos, que passado um ano, iamos fazer uma grande festa ao pai, que faz anos amanhã e que no ano passado ficou sem festejos. E é por isso que este fim-de-semana se torna ainda mais especial para nós. Porque voltamos a estar todos juntos e ainda mais felizes. Obrigada Matilde por tudo aquilo que nos ensinaste!

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