Uma das coisas que mais me assusta nesta crise por que
estamos a passar é nas consequências culturais que isso vai trazer à nossa
geração, à geração dos nossos filhos. O não haver abertura para ver um bom
espectáculo. O não haver abertura cultural, a possibilidade de rasgar novos
horizontes, de colocar à prova a nossa capacidade criativa. Claro que tenho
medo da fome. Claro que sim, mas se chegarmos a esse ponto já ultrapassámos
tudo, é apenas a luta pela sobrevivência. Nestes tempos que correm vamos
fazendo muitas cedências, na roupa, nos jantares em restaurantes, sobretudo no que toda a cultura. Gostávamos de
ir àquele concerto, mas não dá. Os miúdos pedem para ir ver aquilo, mas não dá.
Até gostávamos muito de viajar e mostrar-lhes a Torre Eiffel, pois, mas não dá.
E aquele livro? Ui que caro que está! Custa-me ver gente capaz, cheia de
ideias, a embrutecer por não ter dinheiro. Gente que quer saber, saber mais,
mas que agora não pode. E este agora durará até quando? E terá que
consequências na nossa cultural? Quantos anos andaremos para trás? Quanto recuaremos
no nosso desenvolvimento. Todos nos apontam como um povo fechado, com anos de
atraso face às potências desenvolvidas, mas com esta crise que trambolhão vamos
dar. É por isso que hoje fiquei contente com a boa nova da UAU, uma das maiores
promotoras culturais portuguesas. Durante o mês de Março, os bilhetes para
assistir aos espectáculos no Teatro Tivoli BBVA custam, apenas à quinta-feira,
10 euros, e o mesmo vai acontecer para
os espectáculos de Abril no Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa. Ou seja,
durante dois meses, as quintas-feiras vão ter teatro a preço de saldo: só 10
euros. Porque nos querem calar e manter afastados da vida social. Porque nos
querem ver tristes e redimidos a trabalhar e a não falar. A sobreviver, em vez
de viver. Porque é preciso mostrar que nós queremos mais, sair mais, conhecer
mais, aprender mais, investir mais, eu faço uma vénia a esta iniciativa de uma
empresa privada de baixar os preços da cultura. É de aproveitar. Sobretudo
quando se sabe que estreia no próximo mês uma hilariante comédia com Eduardo
Madeira, Manuel Marques e António Machado, entre muitos outros e bons actores.
Não podemos deixar que nos tirem tudo…
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