Hoje, a cria mais crescida teve uma festa de anos, na Faculdade de Ciências de Lisboa, onde fez experiências, onde se riu a valer, onde se divertiu. Como seria isso possível, se não tivesse acontecido o 25 de Abril de 1974? Sobretudo uma menina. Sobretudo uma menina de seis anos. Andar na rua? Fazer experiências? Quanto muito deveria ter ficado em casa com a mãe a avó a aprender tricot. O que não era nada, nada mau, é verdade, mas sem a opção escolha, nada brilhava. Saiu de lá com um pega-monstros vermelho, a cor da revolução, a cor preferida dela.
E a avó? A avó fez uma feijoada para a família toda. Deliciosa, por sinal. Deliciosa. E com esta chuva pegada, soube mesmo, mesmo bem! Falamos à mesa, os miudos atropelaram-nos muitas vezes para contar histórias também. Quando sairam da mesa, os crescidos tocaram no assunto política e é apaixonante ver como a geração dos nossos pais vibra com o 25 de abril. Todos nós gostamos, sim, todos gostamos, mas eles viveram. Eles sentiram o antes e o depois. E têm o 25 de Abril na pele. A cria mais pequenota ficou com os avós, enquanto levámos os mais crescidos à festinha de anos. O F não quis ficar e eu também achei que não era indicado para a idade dele, afinal só tem dois anos. Fomos até Belém, beber um café no À Margem. Ele a dormir o tempo todo no carrinho. Eu e o pai a conversar livremente, sem interrupções. Livremente, parece-me muito bem no dia de hoje! Depois de apanharmos a filha crescida e por um par de horas cientista, voltámos a casa dos avós que já nos tinham preparado um belo de um jantar para trazermos para casa, para não perdermos mais tempo. Quem tem uma rica mãe como a minha, tem tudo. Tudo!
E, por mais que a vida de hoje esteja difícil, porque está. E eu sinto isso todos os dias, o poder da crise, nem vocês imaginam como, a verdade é que vivemos livres, pelo menos livres de espírito. Não quero imaginar o que seria não poder estar num café porque sou mulher. Não poder falar porque sou mulher, não poder dizer porque sou mulher. Podemos estar a viver com medo, agora, e acho que estamos, cada vez mais. Mas, vivemos em pós 25 de Abril, com acesso à informação, ao mundo para lá das fronteiras. E isso é bom. Ou pelo melhor do que era há 38 anos atrás.
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