Não deve haver no mercado ervilhas do tamanho do meu
coração. No sábado à noite quando cheguei da festa que fui fazer a Leiria, a
miúda pequena dormia. Toquei nela e vi que tinha febre. Febre alta. Imediatamente
pensei no rim, mas ao mesmo tempo tentei manter a calma e lembrar-me das
milhentas possibilidades que podiam estar associadas. Afinal estamos em época
de constipações e gripes, vamos ter calma. Mas a noite foi de sobressalto, com
a febre a ceder muito pouco e com as temperaturas a obrigarem a intercalar bem-u-ron
com brufen, a cada quatro horas. Acordei com a certeza de estar algo mal com o
rim. Não tinha ranhos, não tinha tosse, nem dores de garganta. Aliás nada lhe doía,
nem ouvido, nem cabeça, nem barriga. Fomos directos a Santa Maria, onde no dia
da alta nos tinha dito: “qualquer dúvida, qualquer febre, mal estar, vai
directamente às urgências com este papel”. Foi o que fiz. Não esperei que a
febre continuasse. Não aguardei pelos três dias da praxe. E foi o melhor que
fiz. Apesar d eme terem dado pulseira verde na triagem (mas como? Mas como, se
a miúda ardia em febre e tinha uma carta a explicar a operação feita há 3
semanas???), a médica que nos atendeu disse que a Matilde não podia esperar. Que
muito provavelmente era uma nova infecção urinária de novo no rim… como há um
ano. Seguiram-se lágrimas, análises, lágrimas, ecografias, lágrimas, análises,
longas horas de espera, lágrimas, reuniões entre médicos. A pediatra da Matilde
queria que ela ficasse internada, a pediatra que estava com ela nas urgências
quis dar o benefício da dúvida. Chegaram a consenso e saímos de lá já de noite
com muitas advertências. “Se vomitar, vem directamente para qui.”, “Pode ter
febre assim como hoje, durante o dia de amanhã, depois tem que baixar, senão
vem directamente para aqui.”, “Alguma queixa dela, vem directamente para aqui”,
“se achar que algo não está bem, vem directamente para aqui”. Até agora ainda
não vomitou e tal como o previsto, ontem a febre não baixou , mas hoje já
aguentou quase sete horas sem antipirético. Já comeu, o que é sempre um sinal
positivo e apesar de ter um ar que parece ter sido atropelada por um camião, já
brinca e canta e ri e grita. O antibiótico está por isso a fazer efeito. Amanhã
temos a consulta pós-operatório, marcada desde o dia da alta. Sei que o que
aconteceu “não era suposto” ter acontecido. Disseram-me os três médicos com quem
falei. A operação tem uma taxa de sucesso de mais de 90 por cento e eu não
quero que ela esteja incluída nos dez por cento que falta. Sinto que voltámos
um ano inteiro para trás. Tenho medo do que vem para a frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário