Já estamos em casa, eu e a pequena Matilde. Foram oito dias
de internamento. Oito dias duros, sem ela poder sair da cama, sem sequer poder
sentar-se na cama para brincar. Oito dias sempre deitada. Mas foram também oito
dias em que brincámos muito e é admirável esta capacidade que os miúdos têm de
se adaptar às situações, de darem a volta por cima e arranjar maneiras de
diversão, que à partida pensávamos ser impossíveis. Ela pintou, ela colou
cromos, descolo-os, voltou a colar. Fez puzzles e penteou bonecas, voltou a
pintar. Viu livros e cantou. Cantou tão alto que todas as enfermeiras iam vê-la,
contagiadas para alegria dela. Nunca fez uma birra para sair da cama, para ver
o que havia do outro lado da porta. Entrou naquele quarto a dormir sob o efeito
a anestesia geral, mas saiu de lá de pé. Com andar muito atabalhoado, mas de
pé! Os médicos já me tinham dito que seria assim, até me disseram que ao fim de
três dias ela voltava a andar normalmente. Pois no próprio dia em que saiu,
começou a andar sozinha, à noite, aqui em casa. Os irmãos emocionaram-se quando
a viram e tratam-na como se ele fosse de cristal. Deixam-na fazer tudo, pegar
em todos os brinquedos, usar o que é deles, escolher as coisas primeiro que
eles. Levam-na pela mão de um quarto para o outro e dão-lhe a escolher que
filme ver. Ontem, vim para casa com o coração nas mãos, com medo que a miúda caísse
a qualquer momento, pela falta de equilíbrio que ela tinha. Vim para casa a
achar que a minha menina, refilona e desenrascada, era de cristal, mas ela, em
poucas horas relembrou-me que é feita de aço e que não são oito dias de cama
que a fazem parar. Eu tenho um orgulho imenso, enorme, gigante, nesta menina. Ainda
temos muito para fazer, muitas visitas para fazer ao hospital, mas o que
interessa é que já estamos em casa. E não, não queremos voltar a repetir a
dose! Agora é gozar deste mimos, que bem merecemos, todos os cinco. Porque não
é fácil estar no hospital com uma filha, mas também não é fácil ter dois filhos
em casa privados de estar com a mãe…
Um comentário:
Entre a borracha e o aço, os pequenos têm mais resistência que nós. Força, mãe! Melhora rápido, piolhita!
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