sábado, 26 de maio de 2012

Banco Alimentar


Depois de almoço e antes de dar um pulo à praia com os miúdos passei no supermercado. À entrada fui abordada por uma senhora que me dirigiu um saco do Banco alimentar. Respondi educadamente que não. Não queria o saco. A senhora, olhou para mim, e questionou-me. Não? E eu voltei a dizer que não e segui caminho. Virando-se para o colega que estava com ela, a dita senhora diz: “Vês? Não são os pobres que não querem ajudar. Quem ajuda menos é quem tem dinheiro”. Ainda parei. O colega reparou que eu tinha ouvido o comentário. Hesitei entre seguir o meu caminho ou voltar atrás e pedir à senhora que me dissesse tudo na cara. Mas tinha pressa e segui. Segui mas não esqueci. Esta semana ouvi conversas de pessoas que sabem do que falam com comentários menos positivos sobre estas campanhas de entrega de alimentos. Ou porque os alimentos chegam aos destinatários já quase com o prazo a terminar, ou porque são recusados pedidos de ajuda só porque a pessoa tem uma boa casa. As pessoas esquecem-se que quem hoje fica desempregado, já teve uma vida normal? Enfim, comentários que me entristeceram. A mim que sou sempre a favor de ajudar. Aliás, quem me segue por aqui sabe que eu acredito que com um euro todos nós podemos mudar o mundo. Desde que estejamos unidos e empenhados. Ora, esta postura do Banco Alimentar, esta tarde, no Minipreço da Ericeira desapontou-me muito. O que sabe aquela senhora de mim, para fazer juízos de valor. Saberá ela por acaso que dinheiro tenho eu? Se tenho um, dois, três ou seis filhos? Se tenho emprego? Se o meu marido me deixou? Se é ele desempregado? Se estou a passar dificuldades para conseguir pagar as minhas despesas? Que eu saiba qualquer um é livre de ajudar e apoiar o Banco Alimentar. Não é obrigado, ou é? Só porque tenho bom aspecto significa que sou rica? Só porque não cheiro mal, não tenho os dentes podres, é sinal que tenho dinheiro a mais? Eu até já podia ter contribuído, num outro supermercado, por exemplo. Eu até podia ir com o dinheiro contado, para uma compra de última hora. Eu até podia dizer que não só porque não. O que não podia ter acontecido era aquele juízo de valor. E para mim foi como uma machadada. Eu que de todas as campanhas do banco alimentar participei sempre, ou quase sempre, porque não vou de propósito ao supermercado por causa do peditório, mas se calha em dia de fazer compras, pois que entrego um arroz, uma massa, uma conserva. Coisa que, sinceramente, fiquei sem vontade nenhuma de voltar a repetir.



(Muito provavelmente, a senhora que esta hoje no supermercado não vai ler este post, mas se de alguma forma chegar a ela algum comentário, espero que tire a lição de não voltar a julgar as pessoas pela aparência. Comigo só perdeu.)

2 comentários:

Anônimo disse...

Não me conhece, mas costumo seguir o seu blog. E desta vez gostava de comentar. Concordo com tudo! Menos com a parte em que diz que não gostou da postura do Banco Alimentar... a postura não foi do Banco, foi dessa senhora em concreto. Sim, está em representação do Banco e deveria ter mais cuidado. Mas não se deve confundir a postura de uma voluntária mal disposta com a postura e o trabalho do Banco Alimentar. Espero que não me leve a mal o comentário :)

Ana Raquel Oliveira disse...

Não me importo nada com o comentário e acabo por concordar consigo. Ainda que a senhora estivesse em representação de uma entidade, ela própria não é essa entidade. Tem toda a razão. E muito obrigada por passar por aqui e por comentar. É para isso mesmo que este espaço existe.