Depois de almoço e antes de dar um pulo à praia com os miúdos
passei no supermercado. À entrada fui abordada por uma senhora que me dirigiu
um saco do Banco alimentar. Respondi educadamente que não. Não queria o saco. A
senhora, olhou para mim, e questionou-me. Não? E eu voltei a dizer que não e
segui caminho. Virando-se para o colega que estava com ela, a dita senhora diz:
“Vês? Não são os pobres que não querem ajudar. Quem ajuda menos é quem tem
dinheiro”. Ainda parei. O colega reparou que eu tinha ouvido o comentário. Hesitei
entre seguir o meu caminho ou voltar atrás e pedir à senhora que me dissesse
tudo na cara. Mas tinha pressa e segui. Segui mas não esqueci. Esta semana ouvi
conversas de pessoas que sabem do que falam com comentários menos positivos
sobre estas campanhas de entrega de alimentos. Ou porque os alimentos chegam
aos destinatários já quase com o prazo a terminar, ou porque são recusados
pedidos de ajuda só porque a pessoa tem uma boa casa. As pessoas esquecem-se
que quem hoje fica desempregado, já teve uma vida normal? Enfim, comentários que
me entristeceram. A mim que sou sempre a favor de ajudar. Aliás, quem me segue
por aqui sabe que eu acredito que com um euro todos nós podemos mudar o mundo. Desde
que estejamos unidos e empenhados. Ora, esta postura do Banco Alimentar, esta
tarde, no Minipreço da Ericeira desapontou-me muito. O que sabe aquela senhora
de mim, para fazer juízos de valor. Saberá ela por acaso que dinheiro tenho eu?
Se tenho um, dois, três ou seis filhos? Se tenho emprego? Se o meu marido me
deixou? Se é ele desempregado? Se estou a passar dificuldades para conseguir
pagar as minhas despesas? Que eu saiba qualquer um é livre de ajudar e apoiar o
Banco Alimentar. Não é obrigado, ou é? Só porque tenho bom aspecto significa
que sou rica? Só porque não cheiro mal, não tenho os dentes podres, é sinal que
tenho dinheiro a mais? Eu até já podia ter contribuído, num outro supermercado,
por exemplo. Eu até podia ir com o dinheiro contado, para uma compra de última
hora. Eu até podia dizer que não só porque não. O que não podia ter acontecido
era aquele juízo de valor. E para mim foi como uma machadada. Eu que de todas
as campanhas do banco alimentar participei sempre, ou quase sempre, porque não
vou de propósito ao supermercado por causa do peditório, mas se calha em dia de
fazer compras, pois que entrego um arroz, uma massa, uma conserva. Coisa que,
sinceramente, fiquei sem vontade nenhuma de voltar a repetir.
(Muito provavelmente, a senhora que esta hoje no
supermercado não vai ler este post, mas se de alguma forma chegar a ela algum
comentário, espero que tire a lição de não voltar a julgar as pessoas pela aparência.
Comigo só perdeu.)
2 comentários:
Não me conhece, mas costumo seguir o seu blog. E desta vez gostava de comentar. Concordo com tudo! Menos com a parte em que diz que não gostou da postura do Banco Alimentar... a postura não foi do Banco, foi dessa senhora em concreto. Sim, está em representação do Banco e deveria ter mais cuidado. Mas não se deve confundir a postura de uma voluntária mal disposta com a postura e o trabalho do Banco Alimentar. Espero que não me leve a mal o comentário :)
Não me importo nada com o comentário e acabo por concordar consigo. Ainda que a senhora estivesse em representação de uma entidade, ela própria não é essa entidade. Tem toda a razão. E muito obrigada por passar por aqui e por comentar. É para isso mesmo que este espaço existe.
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