No sábado, depois de um bom almoço, num restaurante simpático
e farto e, de facto, de bom gosto, impunha-se um passeio a pé. Podia ser apenas
uns minutinhos sem importância, mas voltar logo depois da comezaina para Lisboa
estava fora de questão. Perguntámos ao Sr. Luís, o dono do restaurante “O
Maneta”, muito recomendável para quem não souber onde comer ali para os lados
de Leiria, e ele disse prontamente para irmos ver a nascente do Liz, que era
logo ali a 2
quilómetros . Mas que dica maravilhosa. Que ar puro, que
paisagem. Que gentes. Que maravilha! Não é todos os dias que podemos ver a
nascente de um rio, a nesta altura de grandes chuvas, ver como sai a água bruta
debaixo da terra é um privilégio. Um espectáculo que eu nunca tinha visto e que
pude mostrar já aos meus filhos, que podem esquecer-se, mas que, pelo menos na
mais crescida, pode ficar na ideia e contribuir melhor para conhecer a
natureza. O passeio é curto, mas vale muito a pena. Logo à chegada, ainda no
carro, a Carolina disse que queria ir apanhar laranjas. Eram particulares: em
cada casa um quintal carregado de laranjeiras, mas a verdade é que havia tantas
caídas no chão que com certeza se perguntasse a algum “vizinho”, deixavam a
miúda arrancar uma. E assim fiz. Junto a um quintal carregado de tangerinas, um
senhor perguntou aos meus filhos se queriam arrancar alguma coisa da árvore e
antes de ter a resposta arrancou quatro de seguida. Os miúdos ficaram contentes
e os adultos também. Já estávamos a entrar para o carro, quando um outro senhor
nos diz: “Querem laranjas? Venham comigo que tenho ali muitas”. E, sem nos
conhecer de qualquer parte, sem perspectivas de nos voltar a ver, o senhor
Rogério levou-nos à sua casa, para nos dar laranjas. Não as vendia, dava-as
simplesmente e até chegou a pedir desculpa por algumas estarem sujas, mas
tinham caído das árvores e ele não tinha tido vagar de as limpar. Foi um
momento delicioso, à conversa com um senhor simples, de bom coração e de bom
vinho, que ainda nos deu a provar o vinho que produz. Contou-nos parte da sua
vida. Disse-nos o seu nome e até ficámos com o número de telemóvel dele, para o
caso de ali voltarmos e queremos comprar o seu vinho particular!
Dei-lhe os parabéns pela simpatia, pela simplicidade, pelo
bom coração que com toda a certeza tem. E agradeci, muito mais do que as
laranjas, mas a atitude tão nobre, de boas maneiras portuguesas mas de muito
antigamente: de ter e dar e receber como ninguém!
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