segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A nascente do Liz e o Sr. Rogério


No sábado, depois de um bom almoço, num restaurante simpático e farto e, de facto, de bom gosto, impunha-se um passeio a pé. Podia ser apenas uns minutinhos sem importância, mas voltar logo depois da comezaina para Lisboa estava fora de questão. Perguntámos ao Sr. Luís, o dono do restaurante “O Maneta”, muito recomendável para quem não souber onde comer ali para os lados de Leiria, e ele disse prontamente para irmos ver a nascente do Liz, que era logo ali a 2 quilómetros. Mas que dica maravilhosa. Que ar puro, que paisagem. Que gentes. Que maravilha! Não é todos os dias que podemos ver a nascente de um rio, a nesta altura de grandes chuvas, ver como sai a água bruta debaixo da terra é um privilégio. Um espectáculo que eu nunca tinha visto e que pude mostrar já aos meus filhos, que podem esquecer-se, mas que, pelo menos na mais crescida, pode ficar na ideia e contribuir melhor para conhecer a natureza. O passeio é curto, mas vale muito a pena. Logo à chegada, ainda no carro, a Carolina disse que queria ir apanhar laranjas. Eram particulares: em cada casa um quintal carregado de laranjeiras, mas a verdade é que havia tantas caídas no chão que com certeza se perguntasse a algum “vizinho”, deixavam a miúda arrancar uma. E assim fiz. Junto a um quintal carregado de tangerinas, um senhor perguntou aos meus filhos se queriam arrancar alguma coisa da árvore e antes de ter a resposta arrancou quatro de seguida. Os miúdos ficaram contentes e os adultos também. Já estávamos a entrar para o carro, quando um outro senhor nos diz: “Querem laranjas? Venham comigo que tenho ali muitas”. E, sem nos conhecer de qualquer parte, sem perspectivas de nos voltar a ver, o senhor Rogério levou-nos à sua casa, para nos dar laranjas. Não as vendia, dava-as simplesmente e até chegou a pedir desculpa por algumas estarem sujas, mas tinham caído das árvores e ele não tinha tido vagar de as limpar. Foi um momento delicioso, à conversa com um senhor simples, de bom coração e de bom vinho, que ainda nos deu a provar o vinho que produz. Contou-nos parte da sua vida. Disse-nos o seu nome e até ficámos com o número de telemóvel dele, para o caso de ali voltarmos e queremos comprar o seu vinho particular!
Dei-lhe os parabéns pela simpatia, pela simplicidade, pelo bom coração que com toda a certeza tem. E agradeci, muito mais do que as laranjas, mas a atitude tão nobre, de boas maneiras portuguesas mas de muito antigamente: de ter e dar e receber como ninguém!

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