quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Ser mãe não é “só” ter filhos

Aqui há dias vi uma entrevista na TV a uma jornalista bem conhecida da televisão pública. Na ocasião perguntaram-lhe se ela é uma avó presente, ao qual a resposta foi “Sempre que posso, sim, mas não estou muito tempo com as minhas netas” e a conversa passou imediatamente para o passado e como foi fazer carreira com dois filhos. Às tantas a entrevistada (que não vale a pena dizer o nome porque não se trata aqui de denegrir a imagem de ninguém, mas apenas mostrar que na vida tudo passa pelas atitudes e opções) revela que também não foi uma mãe muito presente, “quer dizer, todas as noites regressava a casa e estava com eles, mas não muito mais do que isso. Inclusivamente, passei depois a chegar muito tarde a casa e por isso, nem nessa altura estava com eles”. Fiquei ali retida a pensar em mim, na minha vida, nas minhas opções. A senhora prosseguiu pela sua brilhante carreira: uma carreira de sacrifício, por sinal, sempre disposta a vestir a camisola que ainda hoje traz consigo. Fiquei retida na ideia de se ser mãe, mas não se ser uma mãe presente. Mas isso existe? Tenho a felicidade de não dizer isso de mim. Tenho a felicidade de ser mãe e não apenas de ter tido três filhos. Estou com eles todos os dias, sou eu que os arranjo de manhã e levo à escola. Sou eu que os vou buscar, que os ajudo com os ainda pequenos trabalhos de casa. Conheço bem quem passa com eles o dia nas escolas, enquanto trabalho, e faço um esforço para participar nas actividades que por lá surgem na sempre importante relação de proximidade casa/escola. Sou eu que brinco com eles, que exploro os brinquedos deles, no sentido de ver o que fazem, para que o façam também. Não basta dar brinquedos aos miúdos. Há que ensiná-los também a brincar. Sou eu que os aconchego à noite, que lhes conto uma história, que partilho um episódio novo dos desenhos animados predilectos. Eu sou mãe. Sou colo, sou casa, sou deles. E também trabalho. Mas não tenho uma carreira brilhante, nem nunca hei-de ter, se isso implicar menos tempo para os meus filhos. Gosto muito da minha profissão, se gosto, mas gosto muito mais da minha família. Trabalho o necessário para garantir o presente deles (quem pode garantir o futuro?), e se tenho que trabalhar mais um pouco, faço-o quando não os prejudico: ou quando dormem, ou quando ficam com os avós, em sinal de dia de festa (os avós também trabalham, logo quando ficam juntos é uma festa), ou quando vão ao cinema com os tios, têm uma festa de anos, etc, etc. E se tiver algum dia que trabalhar na hora de jantar, trabalho, que não vem nenhum mal ao mundo por não partilhar uma refeição com eles, mas por sistema, não. O nosso conforto é estarmos juntos. Mas estarmos juntos porque queremos. Nunca lhes apontei, nem nunca vou apontar o dedo, por não ser uma jornalista conceituada. Já sou feliz por ser uma jornalista. Sou feliz por ter a profissão que escolhi, mas sou essencialmente feliz por ter uma família. E é a partir dela que equaciono toda a minha vida. Eu sou mãe e orgulho-me muito disso.

Nenhum comentário: