Às vezes, com dias absolutamente doidos e feitos de
correrias penso como conseguiria fazer tudo se ainda estivesse presa na
redacção durante todo o dia. Provavelmente conseguiria. Provavelmente dormiria
menos, andava mais mal disposta e resmungona (ou não…), mas conseguiria. Uma
coisa era certa, não dava a mesma atenção aos meus filhos, às vidas dos meus
três filhos como agora dou. Saí não por opção minha, mas por ter sido empurrada
na enxurrada desta crise que até o verão nos levou, raios a partam. Mas a
verdade é que tenho descoberto tantas outras coisas, tantas outras coisas que
me fazem feliz que dou por mim a pensar se não foi bom o que aconteceu. Quer dizer,
bom, não foi que ninguém gosta de trabalhar para a aquecer, e a verdade é que
ainda tenho muitos salários em atraso e noites muito mal dormidas de tamanhas
preocupações, que nunca vou recuperar. Nem as noites perdidas, nem o dinheiro…
Mas é incrível esta capacidade de adaptação que o ser humano tem. Esta energia
em refazer-se, em reinventar-se. Sempre quis ser jornalista, desde muito
pequenina, mas no terceiro ano da faculdade vi-me com pena de não fazer outra
opção de especialização na área da comunicação, como a organização de eventos,
por exemplo. O jornalismo nunca esteve em causa, mas gostava também de fazer
outras coisas e foi por isso que fiz uma pós graduação em comunicação
institucional: para ter um bocadinho do outro lado da comunicação. Agora, 12
anos passados sobre a licenciatura estou a abraçar um projecto novo: da
organização de festas, porque sempre adorei, porque merecia permitir-me isso. Não
está a ser um caminho fácil. Sinto sobretudo que preciso de investir muito de
mim, de estudar muito, e talvez por isso também, esteja a ser tão enriquecedor
e importante. O caminho apenas começou agora e promete ser longo, muito longo. Mas
estou com a motivação lá no alto, apesar de toda esta conjuntura. O tempo não é
de festas, mas a verdade é que não podemos deixar de sonhar, de nos divertir. E
a mim, as coisas bonitas inspiram-me nas mais pequenas coisas e é de coisas
bonitos que quero fazer os meus dias.
Hoje ganhei o dia de trabalho ao fazer esta fotografia
inspirada nos Santos Populares e em particular no nosso Santo António. Sinto que
criei algo ao pensar em fazê-la. Parti do zero e entreguei-me a 100 por cento. Gosto
de imagens de sardinhas e foi daí que parti. Gosto de ver o Santo António como
Santo Casamenteiro e foi por aí que continuei, em busca de bolos “casadinhos”.
E gosto muito, muito do resultado final. E, voltando ao início deste post:
nunca iria fazer esta fotografia, nunca iria criar uma sardinha nem esta
imagem, se estivesse presa à redacção um dia inteiro. E é por isso que eu
acredito mesmo que nada acontece por acaso e que a vida está cheia de janelas
por abrir.
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